Regular a inteligência artificial é proteger a vida em sociedade

Enquanto o mundo discute os limites éticos e políticos da inteligência artificial, cresce a percepção de que o desafio não é apenas tecnológico, mas civilizacional. “A regulamentação da IA não é uma formalidade burocrática. É o esforço de dar contorno a um jogo em que ainda não conhecemos as regras”, afirma Riadis Dornelles, CEO Latam da PremiumAds e vice-presidente da Associação Nacional de Publishers do Brasil (ANPB).
Dornelles observa que a humanidade sempre projetou o futuro por meio da tecnologia, dos carros voadores aos robôs domésticos, mas que a verdadeira revolução aconteceu em outro lugar: no território da criação, da decisão e da linguagem, até então considerados exclusivamente humanos.
Para ele, a comparação com a Revolução Industrial ajuda a dimensionar o impacto atual. “Na época, sabíamos o propósito de uma prensa ou de uma locomotiva. Agora, quem define o uso e o rumo da tecnologia são milhões de programadores espalhados pelo mundo, e isso gera um universo fragmentado, em múltiplas direções”.
O impacto direto no jornalismo
No campo do jornalismo, Dornelles enxerga um paralelo com a invenção da prensa de Gutenberg. “Pela primeira vez desde o século XV, não estamos apenas multiplicando informação, mas alterando a lógica de produção e circulação do conhecimento”, analisa.
“Não podemos terceirizar nossa responsabilidade profissional para uma máquina. A IA pode ser ferramenta, mas jamais árbitro final da verdade”, alerta. A regulação é uma necessidade urgente. “Se aceitarmos a sedução da resposta imediata e da eficiência absoluta, corremos o risco de sermos conduzidos por sistemas que não prestam contas a ninguém. Regular a IA é proteger os fundamentos da vida em sociedade”, destaca.
Ele reforça que a inteligência artificial está mais próxima de um organismo que aprende do que de uma simples ferramenta. “Ela nunca será a mente humana, assim como aviões nunca serão pássaros, mas já demonstra capacidades que ampliam e, em certos pontos, superam as nossas”.
O avanço das redes neurais e os investimentos bilionários no setor tornam a regulamentação ainda mais urgente. “Sem transparência, explicabilidade e reversibilidade, podemos viver em um ecossistema em que algoritmos decidem por nós sem prestar contas. A regulação não deve ser freio, mas bússola”, conclui.


