Escola transforma noite longe dos pais em experiência de autonomia e vínculos para crianças da educação infantil

A experiência, cada vez mais comum em instituições de educação infantil com abordagem sociointeracionista, não se resume a uma aventura divertida ou a um evento isolado no calendário escolar. Trata-se de um ritual de passagem que mexe com o imaginário, a autonomia e o fortalecimento dos vínculos entre crianças, educadores e famílias.
“Para muitas crianças, será a primeira vez dormindo fora da própria cama, longe do quarto dos pais. É o começo do exercício de uma independência afetiva, respeitosa e segura, construída não por ruptura, mas por ampliação de horizontes”, conta Deyse Campos, pedagoga da escola Interpares - PR.
Do ponto de vista psicopedagógico, essa vivência toca aspectos profundos do desenvolvimento emocional infantil. “Ao dormir na escola, a criança é convidada a habitar outro espaço simbólico. Ela amplia o seu espaço interno, psíquico, ao perceber que pode existir, sonhar e descansar para além da estrutura familiar imediata. Isso tem muito valor, especialmente em tempos em que muitas crianças ainda compartilham a cama com os pais ou têm dificuldade de dormir sozinhas”, explica a especialista.
Essa noite diferente também se conecta ao universo lúdico que permeia a infância. Dormir na escola alimenta fantasias comuns às crianças: será que os brinquedos ganham vida à noite? As professoras moram mesmo aqui? O que acontece na escola quando ninguém está olhando? Assim como em filmes como Toy Story ou Uma Noite no Museu, o imaginário se expande. A escola ganha novos contornos: vira território de sonhos, mistério, cumplicidade.
Enquanto isso, do lado de fora, pais e responsáveis se redescobrem. Para muitos, saber que os filhos estão bem acolhidos e felizes é o estímulo necessário para viver uma pausa. Grupos de pais costumam se reunir, conversar, relaxar. Muitas vezes, nascem ali novas amizades e trocas preciosas sobre os desafios e encantos da parentalidade.
Mais do que um “acampamento escolar”, essa noite representa uma vivência de comunidade. Crianças aprendem a cuidar umas das outras, a confiar em adultos que não são seus familiares diretos, a compartilhar um espaço comum de forma afetiva. Pais e mães descobrem que a educação é uma rede – e que eles também fazem parte dela.
É só uma noite, mas pode ser um marco. Uma noite em que se dorme fora para acordar maior por dentro.