Trocar de escola no meio do ano é também reorganizar o mundo da criança

Quando os pais percebem que a rotina escolar não anda como o esperado, seja por desânimo, mudanças de comportamento, desempenho pedagógico ou por aqueles comentários soltos no banco de trás do carro, é comum surgir os questionamentos: “Será que essa escola ainda faz sentido para o momento da família? Precisamos mesmo esperar o fim do ano para trocar de escola?
“Pensar em uma possível troca costuma vir acompanhado de muitos sentimentos. Existe o medo de causar uma ruptura, o receio de deixar para trás vínculos importantes e, principalmente, a preocupação com o impacto emocional para a criança”, explica Deyse Campos, psicóloga da Escola Interpares, em Curitiba (PR).
Por isso, essa decisão não deve ser apressada ou tomada apenas com base em um episódio pontual. Segundo Deyse, o primeiro passo é sempre olhar com sensibilidade para a criança e para o contexto como um todo.
“É essencial observar o que está por trás do descontentamento, tanto do aluno quanto da família. Às vezes, a resistência à escola pode estar relacionada a uma fase emocional, a desafios sociais ou inseguranças que fazem parte do desenvolvimento infantil. Nem sempre a solução é a mudança. O diálogo com a escola pode esclarecer muitas questões”, orienta.
Por outro lado, quando a troca se mostra necessária, o processo precisa ser conduzido com paciência e acolhimento, tanto pela escola de origem quanto pela nova escola. Caroline Brand, coordenadora pedagógica da Interpares, reforça que cada criança reage de uma forma e que a adaptação no meio do ano vai muito além dos primeiros dias.
“É comum que, no início, a criança fique encantada com as novidades. Mas, depois de algumas semanas, a saudade do conhecido pode aparecer e trazer novas inseguranças. Isso faz parte do processo”, explica.
Deyse elenca cinco dicas para as famílias que estão pensando em viver esse processo no meio do ano:
- Investigue o “não dito” nas falas e comportamentos da criança
Mais do que os relatos diretos, fique atento aos sinais sutis: mudanças no brincar, desenhos, frases soltas ou até silêncios excessivos. Muitas vezes, o incômodo com o ambiente escolar aparece de forma simbólica, antes de ser verbalizado claramente.
- Mapeie o ecossistema da nova escola antes de decidir
Não se trata apenas de currículo ou estrutura. Observe o clima social: como são os momentos de intervalo, como os alunos interagem, se existe um ambiente de acolhimento real. A escola pode ter excelente proposta pedagógica, mas se o ambiente relacional for tóxico, a troca pode não resolver.
- Inclua a criança no processo de transição, na medida certa da idade
Mesmo crianças pequenas podem participar de visitas, conhecer o espaço novo ou opinar sobre detalhes (como o material escolar novo). Isso dá sensação de protagonismo e reduz a ideia de que a troca foi algo imposto ou resultado de um “fracasso”.
- Prepare o emocional para o “efeito lua de mel” seguido do choque de realidade
Muitos alunos ficam animados nas primeiras semanas, mas, com o tempo, bate a saudade dos colegas antigos ou vem o estranhamento com as diferenças. Isso é esperado e não significa que a troca foi um erro, é apenas parte da curva natural de adaptação.
- Construa pontes entre o passado e o presente da criança
Não apague a história anterior. Incentive o contato com amigos da escola antiga (se for saudável), relembre conquistas passadas e valide o que foi vivido. Isso ajuda a criança a integrar as experiências, sem ver a mudança como uma ruptura total.
O novo professor ou professora não vai “substituir” instantaneamente o vínculo anterior. É um processo de construção mútua. Apoie o educador com informações sobre o histórico da criança, mas evite cobranças imediatistas sobre resultados.