Bastidores da ambulância revelam o que poucos sabem sobre os plantões de emergência

Para a maioria das pessoas, as ambulâncias são vistas apenas quando passam em alta velocidade, sirene ligada, numa situação de urgência. Mas o que acontece antes, durante e depois de um chamado de socorro? Os bastidores do plantão de uma equipe de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) revelam uma rotina intensa, cheia de preparo técnico, tomadas de decisão sob pressão e, principalmente, humanidade.

Entre os que vivem essa rotina está Eliéverson Carlos Vieira Fortes, enfermeiro de 35 anos, com 15 anos de atuação na área de urgência e emergência, sendo 10 deles dedicados ao atendimento pré-hospitalar, onde diz ter encontrado sua verdadeira paixão pela profissão.

Há seis anos ele integra a equipe da Central de Regulação de Urgências da SMB Gestão em Saúde, empresa que opera o Samu em diversos municípios paranaenses. Segundo Eliéverson, o foco é estar pronto para qualquer situação, a qualquer momento.

“Antes mesmo de iniciar o plantão, já estamos nos preparando. Fazemos o check-list completo da ambulância, conferimos materiais, equipamentos, e realizamos o teste de prontidão, que inclui um trajeto com o veículo para garantir que tudo está funcionando”.

Os plantões duram 12 horas e o clima dentro da ambulância no deslocamento até a ocorrência é de concentração absoluta. “Colocamos os equipamentos de proteção individual, mantemos o foco total. Nosso objetivo é chegar no local e fazer o melhor possível”, destaca o enfermeiro.

Cada chamado é recebido via rádio e celular, a equipe é informada sobre o tipo de ocorrência e o nível de urgência, o que define se o deslocamento será com sirene e giroflex ligados. Durante o atendimento, a comunicação com a central é constante, assim como com o médico regulador, responsável por definir o hospital ou UPA de destino conforme a gravidade do caso.

Eliéverson conta que o maior desafio é emocional. “Cada ocorrência é única, os desafios são inúmeros, mas o desejo de fazer o melhor sempre supera qualquer dificuldade. Estamos sempre nos preparando fisicamente e psicologicamente para isso”.

Entre os momentos mais marcantes da carreira, ele cita os atendimentos envolvendo crianças. “Esses sempre tocam muito. Em 2023, atendi um capotamento de ônibus na BR-277, com 50 pessoas envolvidas e cinco óbitos, algumas vítimas eram crianças. Fizemos o nosso melhor, mas essas cenas ficam”.

Mesmo acostumado à rotina de salvar vidas, Eliéverson não esconde o lado humano. “Já chorei, sim. Não dentro da ambulância, mas quando entrei no meu carro depois de um plantão. Perdemos uma criança atropelada, que tinha a mesma idade do meu filho. Somos profissionais, mas somos humanos também”, revela.

Para ele, a população ainda desconhece o que acontece por trás do socorro. “Nem sempre as pessoas entendem que nosso trabalho exige muito preparo, fazemos cursos, treinamentos, educação continuada. Estamos sempre buscando ser melhores”, enfatiza.

Apesar dos desafios, há momentos que renovam a esperança, muitos atendimentos com finais felizes. A maioria, aliás. “Sempre há motivos para sorrir e acreditar que a humanidade tem jeito. Eu tenho fé, sem ela não teríamos nada”, finaliza Eliéverson.